• Dom Filipe - Abade do Mosteiro do Rio de Janeiro

    ALOCUÇÃO NO FINAL DA MISSA DA BÊNÇÃO ABACIAL – 14/09/2006






    Ut nemo contristetur in domo Dei (RB 31,18)
    Introdução


    §  Revmo Dom José Cardoso Sobrinho OCarm (Arcebispo de Olinda-Recife), Revdo Dom Antônio Fernando Saburido (monge desta casa e Bispo de Sobral-CE), Revdos Bispos do Regional NE e de outros Regionais, Revmo Dom Emanuel D’Able do Amaral (Arquiabade do Mosteiro da Bahia e Abade-Presidente da Congregação Beneditina do Brasil), Revdos Abades e Abadessas, Priores e Prioresas, Revdos Padres, Religiosos e Religiosas, caros irmãos e fiéis.
    §  Assumi no último dia 23/08 o múnus Abacial do nosso Mosteiro de São Bento de Olinda. Lembrava na ocasião que assumia com especial alegria e grande temor.
    §  Alegria, por ter sido chamado por Deus para servir em Sua casa. O mosteiro, antes e acima de tudo, dever ser sempre Casa de Deus (RB 31,19; 53,22; 64,5). Servir, pois, a casa de Deus, é fonte de alegria como recomenda o salmista: Servi ao Senhor com alegria (Sl 99,2). Temor, porque cumprir bem tal serviço é de fato um grande desafio, a partir das exigências colocadas sob o Abade por nosso pai São Bento em sua Regra. Sim, o abade deve ser pai, pastor, mestre e médico (2.64) – exercer com eficiência tais características, só será possível com as copiosas graças do bom Deus.

    1.   A Bênção Abacial

    §  Por isso mesmo, não tomei nenhuma decisão antes da bênção abacial, agora recebida, pois, conforme as nossas Constituições, pela bênção abacial o Abade adquire as graças correspondentes ao seu múnus de paternidade... múnus ordenado ao bem comum da família monástica (nº 8).
    §  Com paciência e oração, procurarei a partir de então um contato pessoal com os novos filhos para conhecer o estado de cada um: como viveu até aqui, como vive atualmente e como pretende viver e colaborar com o novo abade e a Comunidade.
    §  Reitero: não faltará da minha parte disposição para ouvir, orientar, incentivar, consolar e, se for o caso, corrigir.

    2.   O Mosteiro – Casa de Deus

    §  Quando assumi o cargo no dia 23 e antes de retornar ao Rio, recomendava a cada filho que aproveitasse o período até a bênção abacial para rezar mais, para fazer uma profunda revisão de vida, e que cada um se interrogasse no íntimo do coração, afinal: O que tenho feito e construído no Mosteiro e em prol do Mosteiro? Como tenho cuidado da minha vocação? Como andam as minhas opções? Qual é a minha verdade? Qual é o meu mistério? Por que e para que quis consagrar a minha vida e viver neste mosteiro sob o olhar de Deus?
    §  Fiz essa recomendação porque creio firmemente que em muito ajudará a tomarmos mais consciência da nossa vocação de ‘homens chamados a serem de Deus’.
    §  Ora, se fomos chamados a viver na Casa de Deus – o mosteiro deve ser sempre a Casa de Deus – temos a obrigação de sermos homens de Deus, e se ainda não o somos, deveremos estar sempre nos empenhando em sê-lo.
    §  Por isso o meu lema abacial para que ninguém se entristeça na Casa de Deus (RB 31,18). Não está triste na casa de Deus é viver com alegria, responder com alegria e constante conversão, o chamado que um dia Deus fez a cada um de nós.

    3.   Um bom abade

    §  No último dia 08, Festa da Natividade de Nossa Senhora – Sol de Nossa Senhora do Monserrate, Titular da igreja abacial e padroeira do MSB/Rio – despedia-me oficialmente daquela querida Comunidade que me acolheu por 18 anos. Disse na ocasião que o meu propósito quando lá cheguei era o de ser apenas um bom monge.
    §  Falo também agora para a minha nova e querida Comunidade. Quererei ser apenas um bom abade: servir a esta Casa com alegria e simplicidade! Rezem para que eu seja sempre bom, caridoso, que dê exemplo de oração, castidade, pobreza, honestidade, sobretudo exemplo de fé e de amor a Jesus Cristo e a sua Igreja. Rezem para que eu não me omita e tenha coragem de tomar as decisões que devam ser tomadas. Rezem para que eu saiba unir e conciliar os temperamentos de todos.
    §  Confiem no novo abade. Volto a dizer o que já mencionei quando assumi o cargo: sou um homem simples, silencioso e paciente, gosto das coisas ordenadas e transparentes, possuo um grande amor ao ideal proposto por nosso pai São Bento.
    §  Conheço bem as minhas fragilidades. Aliás, NPS Bento recomenda ao abade que suspeite sempre da sua própria fragilidade (RB 64,3). Meditando sobre as mesmas encontrei consolo em Jeremias, quando fala sobre a vocação do Profeta: Ah! Senhor Javé, eu nem sei falar, pois que sou apenas uma criança. Replicou, porém, o Senhor: não digas: Sou apenas uma criança, porquanto irás procurar todos aqueles aos quais te enviar e a eles dirás o que te ordeno... estarei contigo (Jr 1,6-8).
    §  É uma grande consolação saber que fui enviado pelo Senhor a esta Casa de Deus e que Ele mesmo me assistirá no exercício da missão confiada.

    4.   A vida no claustro

    §  Nesse contexto, volto a lembrar que a dignidade de uma casa depende dos seus moradores, daqueles que vivem no seu recinto. Uma casa religiosa – casa de Deus, e beneditina – deve ser uma casa com habitantes que queiram ser de Deus, e para tal, vivam cultivando: a conversão dos seus costumes; a lectio divina; um silêncio fecundo; um trabalho sério... E tudo isso numa atmosfera de oração perene, com uma liturgia bem celebrada, um ofício divino cheio de dignidade, num ambiente onde reina a caridade fraterna e um acolhimento cheio de humanidade.
    §  Volto a falar do fundo do meu coração: não concebo vida religiosa consagrada beneditina no claustro sem a vivência desses valores! Sem eles, estamos no lugar errado e perdendo tempo! Com eles, viveremos alegres na casa de Deus!

    5.   Agradecimentos

    §  Desejaria agradecer a presença do Exmo e Revmo Arcebispo de Olinda e Recife, e antes ter-nos recebido em seu Palácio. O senhor fez questão de que a bênção abacial fosse dada pelo nosso querido D. Fernando – a quem também agradeço de coração.
    §  Tenha certeza Dom José de que o novo abade do MSB de Olinda e também os seus monges, têm consciência  do papel desta abadia para a nossa querida Diocese. Conte com a oração desta Casa, conte com nossa fidelidade à Igreja e ao Santo Padre.  Procurarei fazer do Mosteiro uma verdadeira Casa de Deus, um lugar de oração, de paz, de cultura e de acolhimento. Como prometi, oportunamente visitarei o senhor.
    §  Outro agradecimento é a todos os senhores bispos aqui presentes. Conto com as orações dos senhores; venham sempre ao nosso mosteiro descansar, rezar um pouco mais, refazer as forças das labutas episcopais!
    §  Ainda um agradecimento aos Abades e Abadessas, aos Priores e Prioresas, aos monges e monjas, às Irmãs Beneditinas Missionárias de Tutzing.
    §  Um agradecimento especial a Dom Arquiabade Emanuel pela ajuda e todas as orientações para o futuro exercício do cargo abacial. Um profundo agradecimento a D. Roberto Lopes, abade do MSB do Rio de Janeiro: serei eternamente grato por tudo e por toda a ajuda que o senhor nos deu!
    §  Quero agradecer a presença do Superintendente do IPHAN, Dr. Frederico Neves, por todas as orientações do Patrimônio no restauro parcial desta casa. Temos que dar continuidade ao restauro da Capela do SSMO, a Capela Abacial, a nossa tão bela Sacristia, além do Santuário de Nossa Senhora dos Prazeres. De público, agora, rsrs, estou agendando uma audiência com o senhor!
    §  Por último, um muito obrigado a todas as pessoas presentes. Meus familiares, em especial, minha mãe. A senhora, que ficou viúva em abril deste ano, oferece-me um precioso exemplo: o de que é possível começar e terminar bem uma missão, pois foi fidelíssima aos seus mais de 60 anos de matrimônio. Tenha certeza, D.Josefa, procurarei imitá-la na fidelidade à missão recebida!
    §  Igualmente agradecer aos Oblatos e tantos amigos da caravana carioca. A presença de vocês deixa-me muito emocionado. Venham outras vezes nos visitar, dizem aqui que o frevo e os bonecos de Olinda são tão interessantes quanto o samba e as alegorias do carnaval da cidade maravilhosa, rsrs.
    §  Muito grato a minha Comunidade e a todos os que trabalharam na preparação desta nossa bênção abacial: Deus os recompense!

    Conclusão

    §  Concluo dizendo que sejamos zelosos em realizar o bem que a nossa vocação pede enquanto é tempo ou enquanto a graça de Deus nos possibilita e nos eleva.
    §  Como consagrados temos o dever de zelar pela nossa vocação e de trabalhar pela nossa santificação, a fim de que a graça de Deus não seja desperdiçada.
    §  Iniciando este novo tempo, saibamos acolher o inesperado, a surpresa ou mesmo a contradição, pois Deus pode mesmo os permitir para que despertemos da rotina do dia a dia para uma vida nova!
    §  Nunca será tarde, e será sempre necessário redescobrir a paixão pela vocação recebida, estruturar continuamente a nossa resposta a Deus no claustro! Já se disse que o que importa não é o que você tem na vida, mas a quem você tem na vida (Shakespeare). Tenhamos a Deus, procuremos a Deus, nada antepondo ao amor de Cristo (RB 4,21).
    §  Com paciência e muita oração, iniciemos uma vida nova para agradarmos não ao novo abade, mas unicamente a Deus! Tempora bona habeatis per multos annos (que tenhamos bons tempos por muitos anos!).

    1 comentários:

    1. Ao ler tão belas palavras tenho certeza de que saio com minha fé e vocação mais fortes, assim como meu amor pela Igreja e por Nosso Pai São Bento.

      Aproveito para fazer uma cobrança, se me permite: Por favor, coloque aqui no site a alocução feita no final da missa da Benção Abacial realizada no MSB/RIO DE JANEIRO, no final de 2012.

      Os irmãos e fiéis de Olinda sentem sua falta Dom Abade Filipe e ao sr. voltam suas orações, a fim de que sua nova empreitada no RJ seja cada vez mais repleta do Espírito Santo de Deus.

      PAX

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