Ut nemo contristetur in
domo Dei (RB 31,18)
§
Revmo
Dom José Cardoso Sobrinho OCarm (Arcebispo de Olinda-Recife), Revdo Dom Antônio
Fernando Saburido (monge desta casa e Bispo de Sobral-CE), Revdos Bispos do
Regional NE e de outros Regionais, Revmo Dom Emanuel D’Able do Amaral (Arquiabade
do Mosteiro da Bahia e Abade-Presidente da Congregação Beneditina do
Brasil), Revdos Abades e Abadessas, Priores e Prioresas, Revdos Padres,
Religiosos e Religiosas, caros irmãos e fiéis.
§
Assumi no último dia 23/08 o múnus Abacial do
nosso Mosteiro de São Bento de Olinda. Lembrava na ocasião que assumia com especial alegria e grande temor.
§
Alegria, por ter sido chamado por
Deus para servir em Sua casa. O mosteiro, antes e acima de tudo, dever ser sempre
Casa de Deus (RB 31,19; 53,22; 64,5). Servir, pois, a casa de Deus,
é fonte de alegria como recomenda o salmista: Servi ao Senhor com alegria
(Sl 99,2). Temor, porque
cumprir bem tal serviço é de fato um grande desafio, a partir das exigências
colocadas sob o Abade por nosso pai São Bento em sua Regra. Sim, o abade deve ser pai, pastor,
mestre e médico (2.64) – exercer com eficiência tais características, só será possível com as
copiosas graças do bom Deus.
1. A Bênção Abacial
§ Por isso mesmo, não tomei nenhuma decisão
antes da bênção abacial, agora recebida, pois, conforme as nossas Constituições,
pela bênção abacial o Abade
adquire as graças correspondentes ao seu múnus de paternidade... múnus ordenado
ao bem comum da família monástica (nº 8).
§ Com paciência e oração, procurarei a partir
de então um contato pessoal com os novos filhos para conhecer o estado de cada
um: como viveu até aqui, como vive
atualmente e como pretende viver e colaborar com o novo abade e a Comunidade.
§ Reitero:
não faltará da minha parte disposição para ouvir, orientar, incentivar,
consolar e, se for o caso, corrigir.
2. O Mosteiro – Casa de Deus
§ Quando
assumi o cargo no dia 23 e antes de retornar ao Rio, recomendava a cada filho que
aproveitasse o período até a bênção abacial para rezar mais, para fazer uma
profunda revisão de vida, e que cada um se interrogasse no íntimo do coração,
afinal: O que tenho feito e construído no Mosteiro e em
prol do Mosteiro? Como tenho cuidado da minha vocação? Como andam as minhas
opções? Qual é a minha verdade? Qual é o meu mistério? Por que e para que quis
consagrar a minha vida e viver neste mosteiro sob o olhar de Deus?
§ Fiz essa recomendação porque creio firmemente
que em muito ajudará a tomarmos mais consciência da nossa vocação de ‘homens chamados a serem de Deus’.
§ Ora, se fomos chamados a viver na Casa de
Deus – o mosteiro deve ser sempre a Casa de Deus – temos a obrigação de sermos
homens de Deus, e se ainda não o somos, deveremos estar sempre nos empenhando
em sê-lo.
§ Por isso o meu
lema abacial para que ninguém se entristeça na Casa de Deus (RB 31,18).
Não está triste na casa de Deus é viver com alegria, responder com alegria e
constante conversão, o chamado que um dia Deus fez a cada um de nós.
3. Um bom abade
§ No último dia 08, Festa da Natividade de
Nossa Senhora – Sol de Nossa Senhora do Monserrate, Titular da igreja abacial e
padroeira do MSB/Rio – despedia-me oficialmente daquela querida Comunidade que
me acolheu por 18 anos. Disse na ocasião que
o meu propósito quando lá cheguei era o de ser apenas um bom monge.
§ Falo também agora para a minha nova e querida
Comunidade. Quererei ser apenas um bom
abade: servir a esta Casa com alegria e simplicidade! Rezem para que eu seja sempre bom, caridoso,
que dê exemplo de oração, castidade, pobreza, honestidade, sobretudo exemplo de
fé e de amor a Jesus Cristo e a sua Igreja. Rezem para que eu não me omita e
tenha coragem de tomar as decisões que devam ser tomadas. Rezem para que eu saiba
unir e conciliar os temperamentos de todos.
§
Confiem
no novo abade. Volto a dizer o que já mencionei quando assumi o cargo: sou um homem simples, silencioso e paciente, gosto
das coisas ordenadas e transparentes, possuo um grande amor ao ideal proposto
por nosso pai São Bento.
§ Conheço
bem as minhas fragilidades. Aliás, NPS Bento recomenda ao abade que suspeite
sempre da sua própria fragilidade (RB 64,3). Meditando sobre as mesmas
encontrei consolo em Jeremias, quando fala sobre a vocação do Profeta: Ah! Senhor Javé, eu nem sei falar, pois que
sou apenas uma criança. Replicou, porém, o Senhor: não digas: Sou apenas uma
criança, porquanto irás procurar todos aqueles aos quais te enviar e a
eles dirás o que te ordeno... estarei contigo (Jr 1,6-8).
§ É uma grande
consolação saber que fui
enviado pelo Senhor a esta Casa de Deus
e que Ele mesmo me assistirá no exercício da missão confiada.
4. A vida no claustro
§ Nesse contexto, volto a lembrar que a
dignidade de uma casa depende dos seus moradores, daqueles que vivem no seu
recinto. Uma casa religiosa – casa de Deus, e beneditina – deve ser uma casa
com habitantes que queiram ser de Deus, e para tal, vivam cultivando: a conversão dos seus costumes; a lectio
divina; um
silêncio fecundo; um trabalho
sério... E tudo isso numa atmosfera
de oração perene, com uma liturgia bem celebrada, um ofício divino cheio
de dignidade, num ambiente onde reina a caridade fraterna e um acolhimento
cheio de humanidade.
§ Volto a falar do fundo do meu coração: não
concebo vida religiosa consagrada beneditina no claustro sem a vivência desses
valores! Sem eles, estamos no lugar
errado e perdendo tempo! Com
eles, viveremos alegres na casa de Deus!
5. Agradecimentos
§ Desejaria
agradecer a presença do Exmo e Revmo Arcebispo de Olinda e Recife, e antes ter-nos
recebido em seu Palácio. O senhor fez questão de que a bênção abacial fosse
dada pelo nosso querido D. Fernando – a quem também agradeço de coração.
§ Tenha
certeza Dom José de que o novo abade do MSB de Olinda e também os seus monges,
têm consciência do papel desta abadia
para a nossa querida Diocese. Conte
com a oração desta Casa, conte com nossa fidelidade à Igreja e ao Santo
Padre. Procurarei fazer do Mosteiro uma verdadeira
Casa de Deus, um lugar de oração, de paz, de cultura e de acolhimento. Como
prometi, oportunamente visitarei o senhor.
§ Outro
agradecimento é a todos os senhores bispos aqui presentes. Conto com as orações dos senhores; venham
sempre ao nosso mosteiro descansar, rezar um pouco mais, refazer as forças das
labutas episcopais!
§ Ainda
um agradecimento aos Abades e Abadessas, aos Priores e Prioresas, aos monges e
monjas, às Irmãs Beneditinas Missionárias de Tutzing.
§ Um agradecimento especial a Dom Arquiabade
Emanuel pela ajuda e todas as orientações para o futuro exercício do cargo
abacial. Um profundo agradecimento a D. Roberto Lopes, abade do MSB do Rio de
Janeiro: serei eternamente grato por tudo e por toda a ajuda que o senhor nos
deu!
§ Quero
agradecer a presença do Superintendente do IPHAN, Dr. Frederico Neves, por
todas as orientações do Patrimônio no restauro parcial desta casa. Temos que dar continuidade ao restauro da
Capela do SSMO, a Capela Abacial, a nossa tão bela Sacristia, além do Santuário
de Nossa Senhora dos Prazeres. De público, agora, rsrs, estou agendando uma audiência
com o senhor!
§ Por
último, um muito obrigado a todas as pessoas presentes. Meus familiares, em especial, minha mãe. A senhora, que
ficou viúva em abril deste ano, oferece-me um precioso exemplo: o de que é
possível começar e terminar bem uma missão, pois foi fidelíssima aos seus mais
de 60 anos de matrimônio. Tenha certeza, D.Josefa, procurarei imitá-la na
fidelidade à missão recebida!
§ Igualmente agradecer aos Oblatos e
tantos amigos da caravana
carioca. A presença
de vocês deixa-me muito emocionado. Venham outras vezes nos visitar, dizem aqui
que o frevo e os bonecos de Olinda são tão interessantes quanto o samba e as
alegorias do carnaval da cidade maravilhosa, rsrs.
§ Muito grato a minha Comunidade e a todos os
que trabalharam na preparação desta nossa bênção abacial: Deus os recompense!
Conclusão
§
Concluo dizendo que sejamos zelosos em realizar
o bem que a nossa vocação pede enquanto é tempo ou enquanto a graça de Deus nos
possibilita e nos eleva.
§
Como
consagrados temos o dever de zelar pela nossa vocação e de trabalhar pela
nossa santificação, a fim de que a graça de Deus não seja desperdiçada.
§ Iniciando
este novo tempo, saibamos acolher o inesperado, a surpresa ou mesmo a
contradição, pois Deus pode mesmo os permitir para que despertemos da rotina do dia a dia para uma
vida nova!
§ Nunca será tarde, e será sempre necessário
redescobrir a paixão pela vocação recebida, estruturar continuamente a nossa
resposta a Deus no claustro! Já se disse que o que importa não é o
que você tem na vida, mas a quem você tem na vida (Shakespeare).
Tenhamos a Deus, procuremos a Deus, nada antepondo ao amor de Cristo (RB
4,21).
§ Com
paciência e muita oração, iniciemos uma vida nova para agradarmos não ao novo
abade, mas unicamente a Deus! Tempora bona habeatis per multos annos (que tenhamos bons tempos por muitos
anos!).
Ao ler tão belas palavras tenho certeza de que saio com minha fé e vocação mais fortes, assim como meu amor pela Igreja e por Nosso Pai São Bento.
ResponderExcluirAproveito para fazer uma cobrança, se me permite: Por favor, coloque aqui no site a alocução feita no final da missa da Benção Abacial realizada no MSB/RIO DE JANEIRO, no final de 2012.
Os irmãos e fiéis de Olinda sentem sua falta Dom Abade Filipe e ao sr. voltam suas orações, a fim de que sua nova empreitada no RJ seja cada vez mais repleta do Espírito Santo de Deus.
PAX