• Dom Filipe - Abade do Mosteiro do Rio de Janeiro

    HOMILIA DO XVII DOMINGO DO TEMPO COMUM – B


    HOMILIA DO XVII DOMINGO DO TEMPO COMUM – B 

    Onde vamos comprar pão para que eles possam comer?

    O pão dos anjos, tornou-se o pão dos homens; pão do paraíso, fim de toda dúvida. Ó coisa admirável: consome o Senhor o pobre, o humilde servo!
     (2Rs 4,42-44; Ef 4,1-6; Jo 6,1-15) 
    Introdução
    §  Caros irmãos, prezados fiéis! Bom estarmos reunidos em mais um domingo, o Dia do Senhor, para a celebração da Sagrada Eucaristia, e nela sermos alimentados por duas mesas: 1ª) a mesa da Palavra, que acabamos de ouvir; e 2ª) a mesa do Pão, onde receberemos Jesus Cristo na sagrada comunhão, Ele o pão vivo descido do céu para a vida do mundo (Jo 6,50-51).
    §  A semana que termina foi marcada pelo convite à alegria com a abertura ontem dos XXX Jogos Olímpicos na Inglaterra. O homem do nosso tempo, talvez mais do que outrora, tem muita necessidade de lazer, beleza e alegria, pois refém do modo de vida pós-moderno marcado pela correria, falta de tempo, dramas existenciais, frustrações decorrentes de sonhos não alcançados.
    §  Nós cristãos, não somos alheios às alegrias terrenas, mas sabemos que elas são passageiras (1Cor 9,24s); daí nos nutrirmos da fonte da verdadeira alegria: Deus.  
    §  Sim, há em cada pessoa um vazio do tamanho de Deus – vazio que só Deus pode preenchê-lo! E quando este vazio deixa de ser preenchido com Ele, não há alegria que resista muito tempo, pois o que a sustenta é o esforço humano, não a graça do Senhor.
    §  Disse o Papa Paulo VI que o homem precisa da beleza para não cair em desespero. O Papa falava, não da beleza estética, tão procurada atualmente, mas da beleza de Cristo: Cristo vivo, ressuscitado, majestoso, cheio de beleza e esplendor, no meio de nós como caminho seguro, verdade infalível, vida sem fim (Imitação de Cristo, livro III, c.56).
    §  O bom ladrão vislumbrou esta beleza, embora diante de um corpo crucificado, dilacerado e banhado de sangue. Mesmo assim, ele reconheceu Jesus como um rei que podia conceder-lhe o paraíso. Contemplou a beleza de Cristo, não caiu em desespero, furtou o paraíso. Seu último roubo foi belo e genial: o paraíso eterno (Lc 23,39-43).

    1.   A Liturgia da Palavra   
    §  Chegamos ao XVII. Domingo passado vimos Jesus convidando seus discípulos ao descanso num lugar deserto. Mas, a multidão – era tanta gente que sequer tinham tempo de comer (Mt 6,31) – a multidão chegou ao lugar antes de Jesus e seus discípulos. Tendo compaixão deles Jesus começou a ensinar-lhes muitas coisas.

    1.1. O Evangelho
    §  Vale notar que Jesus não apenas ensinou-lhes muitas coisas, mas também alimentou a multidão de cerca de cinco mil homens ao multiplicar cinco pães e dois peixes – foi o evangelho de hoje que acabamos de ouvir.
    §  Contudo, o texto lido, sequenciando o do domingo passado, não foi o de São Mateus, como seria lógico, mas o de São João. E por quê? Embora ambos tratem de uma multiplicação dos pães, inclusive com semelhança de detalhes, é bem diferente a perspectiva de um e de outro.
    §  São Mateus realça a necessidade de um momento: a solicitude de Jesus Bom Pastor compadecido de cinco mil ovelhas, cansadas e  famintas – ovelhas que o seguiam.

    §  São João, por sua vez, não retrata um momento. Ele, no expressivo capítulo sexto do seu evangelho, fala de um pão vivo descido do céu para a vida do mundo (6,33), pão descido do céu para todos, não para apenas cinco mil pessoas.
    §  Em São João, Jesus é o pão da vida: quem dele comer nunca mais terá fome, quem nele crê nunca mais terá sede, e viverá eternamente. Este pão será a sua carne para a vida do  mundo (6,34.51).

    1.2. A Primeira Leitura
    §  Ganha ainda relevo o texto de São João pelo paralelo com a 1ª leitura, tirada do 2Rs.
    §  Há um detalhe singular: os pães oferecidos a Eliseu pelo homem que veio de Baal-Salisa foram pães dos primeiros frutos da terra: ou seja, pães oriundos das primícias da colheita, pães que pertenciam primeiramente a Deus. Pães, que por um lado, eram frutos do trabalho do homem, mas que por outro lado e acima de  tudo, eram pães portadores da bênção divina – por isso mesmo, pães que se multiplicaram e sobraram após os cem homens terem deles se alimentado.

    2.    Reflexão
    §  Caros irmãos e fiéis, comer e beber são necessidades tão essenciais à vida humana que quase todas as culturas e religiões acompanham-nos com gestos e ritos. Em todas as civilizações comer e beber é sinal de amizade, intimidade, paz. Curioso é que nem sempre a fome ou a sede são o motivo principal de uma refeição!
    §  Nesta perspectiva, o nosso tempo está repleto de lugares para comer e beber: cafés, restaurantes, casas de chá; as livrarias de hoje tem um bom espaço para um café ou um lanche. Chegando a esses lugares a pergunta é a de sempre. O que vão beber? E comer?
    §  Jesus transfigurou esta realidade humana quando pediu a Pedro e a João: Ide preparar-nos a Páscoa para comermos (Lc 22,8). E quando chegou a hora, Ele se pôs a mesa com seus apóstolos e disse-lhes: Desejei ardentemente comer esta páscoa convosco. Tomando um cálice e um pão disse: Isto é o meu sangue, isto é o meu corpo, dado por vós; fazei isto em minha memória (Lc 22,14-20).

    3.   Mensagem
    §  Prezados irmãos e fiéis, eis a mesa da nova ceia: o altar! Lugar do mistério, lugar do milagre diário, lugar do amor de Deus pelos homens. Nele, Jesus não mais multiplica cinco pães, mas Ele mesmo se multiplica para saciar a fome e a sede de uma civilização que tem tanta fome do seu Corpo e tanta sede do seu Sangue!
    §  Valorizemos a Eucaristia como Ceia. Jesus, sabendo de sua importância na vida humana, deixou-a para nela ser Ele mesmo o alimento do homem de qualquer tempo e lugar: Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim, nunca mais terá fome, e o que crê em mim nunca mais terá sede (6,34). Quem come minha carne e bebe meu sangue, permanece em mim e eu nele (6,56).
    §  Vale ainda notar que o último livro da SE fala da visita do Senhor a cada cristão, visita justamente para cear: Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo (Ap 3,20).
    §  Cearei com ele e ele comigo. Sempre que Jesus entrou numa casa – e entrou em muitas – foi para cear ou para curar: duas formas de renovar a vida ou de fazê-la florescer novamente. Precisamos muito destas visitas de Jesus na nossa jornada para que Ele faça florescer vida nova, sobretudo em momentos de desânimo, desencontro, surpresas!
    §  Foi assim na ceia da casa de Zaqueu: curou suas feridas, fez o milagre acontecer (Lc 19,1-10). Zaqueu não foi mais a mesma pessoa depois desta visita-ceia! Ceia que trouxe alegria, serenidade e paz, comunicou vida nova.
    §  Peçamos também ao Senhor em cada Ceia Eucarística, em cada comunhão recebida, que Ele também opere milagres em nós, sobretudo o aumento da nossa fé, para reconhecermos mais e sem vacilar a Sua real presença no pão consagrado.

    Conclusão
    §  Concluamos com uma estrofe do hino Panis Angelicus, que será cantado durante a comunhão de hoje: O pão dos anjos, tornou-se o pão dos homens; pão do paraíso, fim de toda dúvida. Ó coisa admirável: consome o Senhor o pobre, o humilde servo!
    §  Louvado seja nosso Senhor Jesus!                                        

              D.Filipe – 29/07/2012.


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