(2Rs
4,42-44; Ef 4,1-6; Jo 6,1-15)
Introdução
§ Caros irmãos, prezados fiéis! Bom estarmos reunidos em mais um domingo, o Dia do Senhor, para a celebração da Sagrada Eucaristia, e nela
sermos alimentados por duas mesas: 1ª)
a mesa da Palavra, que acabamos
de ouvir; e 2ª) a mesa do Pão, onde receberemos Jesus Cristo na sagrada comunhão,
Ele o pão vivo descido do céu para a vida
do mundo (Jo 6,50-51).
§ A semana que termina foi marcada pelo convite à
alegria com a abertura ontem dos XXX Jogos Olímpicos na Inglaterra. O homem do
nosso tempo, talvez mais do que outrora, tem muita necessidade de lazer, beleza
e alegria, pois refém do modo de vida pós-moderno marcado pela correria, falta
de tempo, dramas existenciais, frustrações decorrentes de sonhos não
alcançados.
§ Nós cristãos, não somos alheios às alegrias terrenas,
mas sabemos que elas são passageiras (1Cor 9,24s); daí nos nutrirmos da fonte
da verdadeira alegria: Deus.
§ Sim, há em cada
pessoa um vazio do tamanho de Deus – vazio que só Deus pode preenchê-lo! E
quando este vazio deixa de ser preenchido com Ele, não há alegria que resista muito
tempo, pois o que a sustenta é o esforço humano, não a graça do Senhor.
§ Disse o Papa Paulo VI que o homem precisa da beleza para não cair em desespero. O Papa
falava, não da beleza estética, tão procurada atualmente, mas da beleza de
Cristo: Cristo vivo, ressuscitado, majestoso, cheio de beleza e esplendor, no
meio de nós como caminho seguro, verdade
infalível, vida sem fim (Imitação de Cristo, livro III, c.56).
§ O bom ladrão vislumbrou esta beleza, embora diante de
um corpo crucificado, dilacerado e banhado de sangue. Mesmo assim, ele
reconheceu Jesus como um rei que podia conceder-lhe o paraíso. Contemplou a
beleza de Cristo, não caiu em desespero, furtou o paraíso. Seu último roubo foi
belo e genial: o paraíso eterno (Lc 23,39-43).
1.
A Liturgia da Palavra
§ Chegamos ao XVII. Domingo passado vimos Jesus
convidando seus discípulos ao descanso num lugar deserto. Mas, a multidão – era tanta gente que sequer tinham tempo de
comer (Mt 6,31) – a multidão chegou ao lugar antes de Jesus e seus
discípulos. Tendo compaixão deles Jesus
começou a ensinar-lhes muitas coisas.
1.1. O Evangelho
§ Vale notar que Jesus não apenas ensinou-lhes muitas
coisas, mas também alimentou a multidão de cerca de cinco mil homens ao
multiplicar cinco pães e dois peixes – foi o evangelho de hoje que acabamos de
ouvir.
§ Contudo, o texto lido, sequenciando o do domingo
passado, não foi o de São Mateus, como seria lógico, mas o de São João. E por
quê? Embora ambos tratem de uma multiplicação dos pães, inclusive com
semelhança de detalhes, é bem diferente a perspectiva de um e de outro.
§ São Mateus realça a necessidade de um momento: a
solicitude de Jesus Bom Pastor compadecido de cinco mil ovelhas, cansadas e famintas – ovelhas que o seguiam.
§ São João, por sua vez, não retrata um momento. Ele, no
expressivo capítulo sexto do seu evangelho, fala de um pão vivo descido do céu para a vida do mundo (6,33), pão descido do céu para todos, não para apenas cinco mil pessoas.
§ Em São João, Jesus é o pão da vida: quem dele
comer nunca mais terá fome, quem nele
crê nunca mais terá sede, e viverá
eternamente. Este pão será a sua
carne para a vida do mundo (6,34.51).
1.2. A
Primeira Leitura
§ Ganha ainda relevo o texto de São João pelo paralelo
com a 1ª leitura, tirada do 2Rs.
§ Há um detalhe singular: os pães oferecidos a Eliseu
pelo homem que veio de Baal-Salisa foram pães dos primeiros frutos da terra: ou seja, pães oriundos das primícias da colheita, pães que pertenciam
primeiramente a Deus. Pães, que por um lado, eram frutos do trabalho do
homem, mas que por outro lado e acima de
tudo, eram pães portadores da
bênção divina – por isso mesmo, pães que se multiplicaram e sobraram após
os cem homens terem deles se alimentado.
2. Reflexão
§ Caros irmãos e fiéis, comer
e beber são necessidades tão essenciais à vida humana que quase todas as culturas
e religiões acompanham-nos com gestos e ritos. Em todas as civilizações comer e beber é sinal de amizade, intimidade, paz.
Curioso é que nem sempre a fome ou a sede são o motivo principal de uma
refeição!
§ Nesta perspectiva, o nosso tempo está repleto de
lugares para comer e beber: cafés,
restaurantes, casas de chá; as livrarias de hoje tem um bom espaço para um café
ou um lanche. Chegando a esses lugares a pergunta é a de sempre. O que vão
beber? E comer?
§ Jesus transfigurou esta
realidade humana quando pediu a Pedro e a João: Ide preparar-nos a Páscoa
para comermos (Lc 22,8). E quando chegou a hora, Ele se pôs a mesa
com seus apóstolos e disse-lhes: Desejei ardentemente comer esta páscoa
convosco. Tomando um cálice e um pão disse: Isto é o meu sangue, isto é o meu
corpo, dado por vós; fazei isto em minha memória (Lc 22,14-20).
3. Mensagem
§ Prezados irmãos e fiéis, eis
a mesa da nova ceia: o altar! Lugar
do mistério, lugar do milagre diário, lugar do amor de Deus pelos homens. Nele,
Jesus não mais multiplica cinco pães, mas Ele mesmo se multiplica para saciar a
fome e a sede de uma civilização que tem tanta fome do seu Corpo e tanta sede do
seu Sangue!
§ Valorizemos a Eucaristia
como Ceia. Jesus, sabendo de sua importância na vida humana, deixou-a para
nela ser Ele mesmo o alimento do homem de qualquer tempo e lugar: Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim, nunca
mais terá fome, e o que crê em mim nunca mais terá sede (6,34). Quem come minha carne e bebe meu sangue,
permanece em mim e eu nele (6,56).
§ Vale ainda notar que o
último livro da SE fala da visita do Senhor a
cada cristão, visita justamente para cear: Eis
que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei
em sua casa e cearei com ele e ele
comigo (Ap 3,20).
§ Cearei com ele e ele comigo.
Sempre que Jesus entrou numa casa – e entrou em muitas – foi para cear ou para
curar: duas formas de renovar a vida ou de fazê-la florescer novamente. Precisamos
muito destas visitas de Jesus na nossa jornada para que Ele faça florescer vida
nova, sobretudo em momentos de desânimo, desencontro, surpresas!
§ Foi
assim na ceia da casa de Zaqueu: curou suas feridas, fez o milagre acontecer
(Lc 19,1-10). Zaqueu
não foi mais a mesma pessoa depois desta visita-ceia! Ceia que trouxe alegria,
serenidade e paz, comunicou vida nova.
§ Peçamos
também ao Senhor em cada Ceia Eucarística, em cada comunhão recebida, que Ele
também opere milagres em nós, sobretudo o aumento da nossa fé, para
reconhecermos mais e sem vacilar a Sua real presença no pão consagrado.
Conclusão
§ Concluamos com uma estrofe
do hino Panis Angelicus, que será cantado durante a comunhão de hoje: O pão dos
anjos, tornou-se o pão dos homens; pão do paraíso, fim de toda dúvida. Ó coisa
admirável: consome o Senhor o pobre, o humilde servo!
§ Louvado seja nosso Senhor
Jesus!
D.Filipe – 29/07/2012.
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