• Dom Filipe - Abade do Mosteiro do Rio de Janeiro

    HOMILIA PARA A SOLENIDADE DE NOSSO PAI SÃO BENTO



    HOMILIA PARA A SOLENIDADE DE NOSSO PAI SÃO BENTO



    (Pr 2,1-9; Ef 4,1-6; Mt 19,27-29)

    Reza e Trabalha

    Introdução

    §  Caros irmãos, prezados fiéis. Que bom estarmos juntos nesta manhã de sol, depois tantas chuvosas, para celebrarmos a Solenidade de NPS Bento. Bento pelo nome e pela graça, homem radiante que brilhou na escuridão de um tempo difícil – e que continua brilhando ainda hoje, pois deixou para o mundo uma mensagem luminosa, sempre viva e atual.
    §  Nunca é demais recordar traços de sua vida. Nascido cerca do ano 480, em Núrsia, nas montanhas da Úmbria-Itália, nosso pai deixou a casa paterna ainda jovem para estudar em Roma. Logo a deixou retirando-se para os montes Sabinos, e numa gruta em Subiaco passou a viver em profunda solidão consigo mesmo durante três anos, sob o olhar de Deus.
    §  De Subiaco foi para Monte Cassino (529), onde fundou o mosteiro berço da nossa Ordem; lá escreveu sua Regra, notável pelo equilíbrio, discernimento e grande amor a Jesus Cristo.
    §  Muito unido a Deus, NPSBento intuiu a própria morte, e seis dias antes da mesma pediu que fosse aberta a sepultura na qual seria enterrado – faleceu de fato como dissera em Monte Cassino no ano 547.
    §  Seu ideal de vida escondia em Deus espalhou-se através dos mosteiros que foram se multiplicando, inicialmente pela Europa e depois em outras partes do mundo. Espalharam-se difundindo valores perenes: atenção a Deus, espiritualidade, educação, amor pelo livro, cultivo dos campos, o trabalho reverente.
    §  O ideal de NPSBento chegou ao Brasil no século XVI, vindo os monges da Congregação Beneditina de Portugal. Nasciam, então, os quatro primeiros mosteiros: o da Bahia em 1582, o de Olinda em 1586, o do Rio em 1590 e o de São Paulo em 1598 – atualmente, são 7 masculinos e 16 femininos espalhados por nosso Brasil.
    §  Dotado de impressionante senso da presença de Deus e de profunda sensibilidade humana, nosso pai aponta em especial para o valor do silêncio e do recolhimento: condições essenciais para o cultivo da oração. Sim, a oração é a alma de tudo! Deus é o absoluto, nele é que vivemos, nos movemos e somos (At 17,28), por isso, como pede nosso pai, Ele deve ser em tudo glorificado (RB 57,9), sobretudo pela oração.
    §  Vejamos a Liturgia da Palavra e depois fiquemos com uma mensagem.

    1.   A Liturgia da Palavra
    §  A 1ª leitura (Pr) realça o convite que nosso pai faz no Prólogo da sua Regra – Prólogo, uma das mais belas páginas da Espiritualidade Cristã. Ouvimos: Se aceitares, meu filho, minhas palavras e conservares os meus preceitos, dando ouvido à sabedoria e inclinando o teu coração ao entendimento... então entenderás o temor do Senhor.
    §  Esta passagem dos Provérbios inspirou NPSBento a escrever as primeiríssimas palavras de sua Regra: Escuta, filho, os preceitos do Mestre e inclina o ouvido do teu coração (Prol).
    §  Quantas vocações surgiram a partir da escuta deste delicado convite! Convite para escutar e acolher com o coração as palavras de vida eterna (Jo 6,68) do Mestre Jesus Cristo.
    §  A 2ª leitura (Ef) mostrou que a escuta deste convite, além de atingir o nosso coração, deve levar-nos a uma mudança de vida. Ouvimos: Exorto-vos a andardes de modo digno da vocação a que fostes chamados, com humildade, mansidão, paciência, suportando-vos uns aos outros com amor. Sim, chamados a viver na Casa de Deus (RB 31), temos que viver de acordo com o ideal proposto por nosso pai, fazendo o que pede a nossa vocação.
    §  O pregador do nosso retiro anual exortou a todos nós, caros filhos, a este cuidado com nossa vocação, nossa vida comunitária, nosso progresso espiritual, nosso zelo bom com a Casa de Deus, com tudo e com todos.
    §  De fato, se cultivarmos bem nossa vocação, não teremos a inquietação de Pedro no evangelho: Eis que nós deixamos tudo e te seguimos, o que é que vamos receber? Jesus respondeu: Todo aquele que tiver deixado casas, irmãos, pai ou mãe, filhos ou terras, por causa do meu nome, receberá muito mais e herdará a vida eterna.
    §  Como se vê, a recompensa supõe um fiel abandono a tudo o que ficou para trás, e pede uma tenaz perseverança até o fim, sob o olhar de Deus – foi assim que viveu nosso pai.
    2.   Reflexão / Mensagem / Reza e Trabalha
    §  Caros irmãos e fiéis, NPSBento tem muito a dizer ao nosso tempo: tempo de barulho e correria. Habitando por três anos na solidão de uma gruta, olhando para dentro de si, descobriu que o mistério da vida só pode ser compreendido quando colocado sob o olhar de Deus – NPSBento simplesmente viveu sob o olhar de Deus e a partir de Deus! Por isto mesmo, apresenta o mosteiro em sua Regra como a Casa de Deus (RB 31,10).

    §  Neste sentido, podemos dizer que nós monges somos aqueles que deixamos tudo simplesmente para darmos atenção a Deus. Podemos dizer que o monge é o homem da atenção a Deus – é a partir da atenção a Deus que tudo em sua vida ganha sentido e direção!
    §  E devemos procurar a Deus unicamente em atenção a Ele (Sl 94), e não por necessidades emocionais, desencontros existenciais, falta de opções. O importante não é que Ele seja válido para a nossa vida, mas que em Deus encontremos a revelação de tudo o que é realmente importante para a nossa existência.

    §  Reza e Trabalha! Esta é a síntese espiritual que NPSBento deixou para nós e para a humanidade! Reza e trabalha: quanta simplicidade, profundidade e sabedoria!
    §  Por que rezar e trabalhar? Nosso pai intuiu que pela oração a criatura vai ao encontro da razão de sua existência, o Criador. E através do trabalho, a criatura aperfeiçoa a obra da criação iniciada pelo Criador, e ao mesmo tempo serve aos seus irmãos.
    §  Como se vê, nosso pai atingiu, séculos antes, um dos dramas do nosso tempo, conciliar oração e trabalho. Vivemos num mundo que não pára, que não sabe fazer silêncio, que perde cada vez mais a dimensão da oração e o sentido do sagrado, mesmo tendo tanta falta destes valores.
    §  Já que a oração dificilmente pode ocupar a maior parte das 24 horas do dia, basta intercalar, dentro das horas de trabalho e de repouso, espaços de oração! Em outras palavras, saibamos rezar como se tudo dependesse de Deus e trabalhar como se tudo dependesse de nós: nem rezar apenas, nem somente trabalhar, mas conjugar com equilíbrio estas duas necessidades em nossa vida.

    §  Eis, a partir de nosso pai, uma arte necessária à nossa vida interior: trabalhemos rezando! E não precisamos rezar muito, mas, sempre! Pequenos instantes de oração ao longo do nosso dia, sob o olhar de Deus, fazem a diferença numa vida que deseja perseverar até o fim!
     
    Conclusão
    §  Houve um homem venerável, Bento, pela graça e pelo nome, que desde criança tinha um coração adulto, porque desde cedo soube coloca-lo em Deus, vivendo sob o seu olhar.
    §  Sigamos, pois, as pegadas de NPSBento renovando neste seu dia o amor ao Filho de Deus, como ele pede em sua Regra: nada antepor ao amor de Cristo (RB 4,21).
    §  Que ele continue guardando nosso mosteiro e seus monges, o nosso Colégio de São Bento e os demais setores, os que aqui estudam, trabalham, frequentam.

    §  Façamos hoje nossa ação de graças pelos dons recebidos de Deus nos últimos anos. Nossa jornada não tem sido fácil, mas perseverante e alegre, sempre com o propósito renovado de continuarmos fazendo do nosso querido Mosteiro de São Bento de Olinda uma casa de oração, de silêncio fecundo, de acolhimento fraterno, trabalho sério, liturgia bem celebrada, um ofício divino piedoso, uma digna morada do Senhor!

    §  Que NPSBento interceda por um futuro melhor para todos nós, em especial por você que veio hoje à sua casa para celebrar a sua festa. E não tenhamos medo nem do presente nem do futuro, ele será sempre nosso fiel intercessor!



    Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo! 

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