• Dom Filipe - Abade do Mosteiro do Rio de Janeiro

    HOMILIA PARA O II DOMINGO DO TEMPO COMUM – C



    HOMILIA PARA O II DOMINGO DO TEMPO COMUM – C



    Solenidade de São Sebastião, Mártir – Padroeiro da Cidade do Rio de Janeiro.
    2Mc 7,1-2.9-14; 1Pd 3,14-17; Lc 9,23-26

    Quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará!
    Introdução

    Caros irmãos e fiéis! Passadas e vividas as alegrias do Tempo do Natal, iniciamos as primeiras semanas do Tempo Comum – período da Liturgia distribuído em 34 semanas e dividido em duas etapas: a primeira, que começa após a Festa do Batismo de Jesus e vai até a 3ª feira antes das Cinzas (justamente a etapa que estamos vivendo); e a segunda, que é reiniciada após a celebração dos Tempos Quaresmal e Pascal, estendendo-se até a Solenidade de NSJC Rei do Universo.
    Neste Ano C, sobretudo nos domingos do Tempo Comum, a Liturgia utiliza o Evangelho de São Lucas para apresentar-nos a mensagem de Jesus – São Lucas, o evangelista que mais fala da Virgem Maria, o evangelista da oração!

    1.   Solenidade de São Sebastião - Mártir
    Contudo, a liturgia de hoje – II Domingo do Tempo Comum – cede lugar à Solenidade do Mártir São Sebastião, Padroeiro da Cidade do Rio de Janeiro.
    Que foi São Sebastião? Nunca é demais recordar traços de sua figura. Existem controvérsias sobre o local do seu nascimento. Segundo alguns, foi em Milão, cidade de sua mãe; segundo outros, em Narbona, em França, terra natal de seu pai.
    De família cristã, foi batizado logo cedo. Ainda jovem decidiu ingressar nas fileiras romanas, mas nunca deixou de ser um soldado de Cristo. Além de grande caridade para com os irmãos na fé, também revelou o Deus verdadeiro a vários soldados e prisioneiros, conseguindo deste modo converter a muitos pagãos ao Cristianismo.
    Denunciado por tais práticas, pois inadequadas ao seu dever de oficial da lei, teve que comparecer ante o Imperador. Como não negou sua fé, foi condenado sem direito à apelação, amarrado a um tronco e varado por flechas, na presença da guarda pretoriana. No entanto, uma viúva chamada Irene retirou as flechas do peito de Sebastião e o tratou. Assim que se recuperou, se apresentou novamente diante do Imperador, censurando-o pelas injustiças cometidas contra os cristãos, acusando-o de inimigo do Estado. Perplexo com tamanha ousadia, Diocleciano ordenou que o açoitassem até a morte. O fato ocorreu no dia 20/01, provavelmente no ano 288.
    Deu seu nome à Cidade do Rio de Janeiro e ficou como seu Padroeiro desde o ano de sua fundação por Estácio de Sá, em 01/03/1565. Diz uma lenda que em 1711, na batalha final da expulsão dos franceses que ocupavam o Rio, São Sebastião foi visto de espada na mão lutando contra os franceses calvinistas – o dia desta batalha teria coincidido com o dia do Santo, justamente 20 de janeiro.

    2.   A Liturgia da Palavra
    As leituras que acabamos de ouvir ilustram a realidade do martírio, e assim também o testemunho de São Sebastião. A 1ª leitura, tirada do 2Mc, mostra o testemunho de sete irmãos, mortos um a um em presença da mãe. Eles morreram por não terem comido carne de porco, fato que significaria não observar as tradições da fé e o consequente abandono da religião. Vê-se que o testemunho dado pelo jovem Sebastião diante de Diocleciano, se assemelhou ao dos sete irmãos diante do rei.
    No Evangelho de São Lucas, Jesus veio nos recordar que segui-lo supõe uma renúncia pronta e exigente, além de abraçar a cruz (dificuldades), perder mesmo a vida por causa e por amor a Ele. Sim, os mártires são os que mais imitiram e imitam a Jesus Cristo, que do alto da cruz derramou seu sangue para redimir os homens.
    3.   Reflexão
    Caros irmãos e fiéis é sempre oportuno atualizar o mistério celebrado na nossa vida.
    Será que realmente Jesus é o centro da nossa existência, a ponto de testemunhá-lo no caminhar de cada dia? São Pedro, na segunda leitura, tirada de sua primeira carta, deixou o convite a santificar-nos em nossos corações o Senhor Jesus e a dar-nos razão da nossa esperança, da nossa fé! Como anda nosso testemunho?

    4.   Mensagem
    Meus irmãos e fiéis - cristão vem de Cristo! Ser cristão implica abraçar uma nova maneira de ser, de pensar, de viver, de existir independente das condições favoráveis. É fácil seguir Jesus, testemunhar seu amor em nós ou levar adiante nossa vocação quando as condições são ideais.
    Mas, nunca esqueçamos de que qualquer ideal, qualquer vocação, pede renúncias e sacrifícios, sem os quais a perseverança fiel ficará sempre comprometida. Mesmo depois de muitos anos uma pessoa poderá viver no convento, no matrimônio ou numa nova missão sem nunca ter deixado seu antigo lar, sem nunca ter se desvencilhado da influência de pai e mãe, de algo ou alguém que ficou para trás.
    No nosso tempo existem muitas pessoas divididas, emocionalmente fragmentadas, e que nunca entraram em comunhão com sua opção religiosa, seu matrimônio, sua vocação. Muitos nunca fizeram as pazes com sua história, nunca se reconciliaram com seus erros, fracassos ou desventuras. Nunca, de fato, procuraram conhecer a Jesus, quanto mais testemunhá-lo, sobretudo diante das dificuldades do dia a dia!

    São Sebastião vem hoje nos mostrar justamente o contrário. Peçamos sua intercessão – já que não fomos chamados a derramar nosso sangue – para, pelo menos, testemunharmos o grande amor de Deus em nossa vida. Sim, cada pessoa é fruto de um amor único e singular de Deus. Volte para casa, você que está aqui hoje, com esta simples e profunda verdade: Deus o ama muito, e o amará sempre!
    O nosso tempo tem necessidade homens tocados por Deus, como São Sebastião, de religiosos e leigos bondosos, acolhedores, servidores. O Papa Pio XII deixou-nos esta profecia: o grande escândalo do nosso tempo é que os bons estão cansados, e os maus trabalhando muito. Meus irmãos e fies, trabalhemos rezando mais!
    Guardemos a consciência, a partir do exemplo de São Sebastião, de que quem quiser chegar até o fim, quem quiser testemunhar uma vida em Deus, há de renunciar a algo ou a alguém, e cultivar uma arte tão necessária à vida de cada dia: a arte de durar, permanecer e perseverar, de ser fiel e chegar até o fim, abraçando com serenidade alegrias e preocupações, segurando na mão de Deus para seguir be
    Foi assim com os sete irmãos da primeira leitura, foi assim com Jesus, foi assim com São Sebastião e vários santos – não pode ser diferente conosco!

    Conclusão
    Fiquemos com NPS Bento. Ele diz em sua Regra que o monge deve abnegar-se a si mesmo para seguir o Cristo (RB 4,10) – foi o que fez São Sebastião!
    Deixemos que Jesus cresça mais e mais em nós – como disse João Batista, é preciso que Ele cresça e eu diminua (Jo 3,20) – deixemo-nos conduzir por seu evangelho e sua graça. Quem sabe um dia cada um dará seu testemunho com São Paulo: Não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim (Gl 2,20).    
    Interceda São Sebastião por nossa Cidade do Rio de Janeiro, pelo Ano da Fé, pela Jornada Mundial da Juventude, por você que veio participar da Santa Missa de hoje!
    Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo!                              

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