• Dom Filipe - Abade do Mosteiro do Rio de Janeiro

    HOMILIA PARA O PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO – C



    HOMILIA PARA O PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO – C




     Jr 33,14-16; 1Ts 3,12 – 4,2; Lc 21,25-28.34-36

    Levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima.
    Introdução
    Caros irmãos e fiéis! Celebramos o I Domingo do Advento, começamos um novo Ano Litúrgico, iniciamos a contagem regressiva dos últimos 29 dias do ano 2012.
    Nestes últimos dias do ano fica mais evidente para nós um dos mistérios da nossa existência: o mistério do tempo! Os segundos, os minutos, as horas, os dias, os meses, os anos, a vida, o tempo. E assim vai se sucedendo em nossa vida uma seqüência de fim e começo. Com razão disse um jovem compositor falecido: o tempo não pára! (Cazuza). Já um autor pré-cristão – um pagão – disse que temos necessidade de cuidar bem de cada hora, caso contrário, ele, o tempo, escorrerá entre os dedos (Sêneca).
    Qual o sentido, então, dessa roda viva do tempo que escapa ao nosso controle? Para o cristão o tempo é um dom precioso, pois sem ele nada se faz, nele cumprimos nossa missão, nele e com ele caminhamos para o último/grande encontro da nossa jornada.
    Já se disse que no tempo, o cristão é o homem do oitavo dia. Ele trabalha, aproveita o tempo, também no final de semana descansa e faz lazer. Mas, para ele, cada fim de semana é um pequeno fim, que aponta para o Grande Fim, o encontro com o Senhor.
    Tal encontro definitivo é, de certo modo, antecipado pela Eucaristia, na Santa Missa dominical, nosso encontro semanal com o Senhor. O domingo, Dia do Senhor, é a ocasião de fecharmos o olhar ao que é temporal, elevá-lo às coisas do alto, para assim darmos sentido à nossa existência e direção ao nosso caminhar no tempo!

    1.   O Ano Litúrgico
    A Igreja inicia hoje seu novo Ano Litúrgico. Inspirando-se na experiência do povo do AT, que ao longo do ano celebrava os benefícios de Deus em seu favor – sobretudo a libertação do Egito, a marcha pelo deserto e a Aliança no Sinai. A consciência cristã assumiu a forma das festas do AT, dando-lhes, porém, novo conteúdo e sentido, organizando em 3 ciclos celebrativos os mistérios da vida de Cristo: Advento/Natal/Epifania – o mistério do Natal; Quaresma/Páscoa – o mistério da Paixão, Morte e Ressurreição; Tempo Comum – a vida de Cristo, em especial, Sua Vida Pública, aplicada ao nosso dia-a-dia.
    Tal ‘ciclo anual’, não de 12 meses, pois o ano da Igreja não coincide com o ano civil, é enriquecido pela celebração das festas dos Santos e da Bem Aventurada Virgem Maria.
    2.   O Advento
    Iniciamos o novo Ano Litúrgico celebrando o I Domingo do Advento (= vinda; chegada). O Advento comporta duas etapas: a primeira – vai até o dia 16/12, e nos recorda a vinda gloriosa e definitiva de Cristo ao mundo, para finalizar a história. É a chamada Parusia ou a segunda vinda de Cristo no fim dos tempos.
    A segunda etapa é preparação imediata para a celebração do Natal, etapa vivida na chamada Semana Santa do Natal, período entre os dias 17 e 24 de dezembro, e que visa preparar-nos para o Natal propriamente dito.

    3.   A Liturgia da Palavra
    As leituras que acabamos de ouvir ilustram justamente a primeira etapa do Advento, falam da vinda futura do Senhor, Ele que trará a redenção definitiva.
    3.1. Na Primeira Leitura
    O Profeta Jeremias diz que Deus virá a Israel para trazer-lhe bens futuros, e assim fará ressurgir a casa de Davi destruída. O profeta, deste modo, anima o povo antigo que se sentia guiado pelo Senhor Deus e esperava vigilante sua vinda, e com ela seu socorro.
    Interessante que Jerusalém receberá o mesmo nome do seu Salvador: Senhor-nossa-justiça, isto porque, o Senhor de justiça, ao visitá-la, conferirá paz e bens sem fim.
    3.2. O Evangelho
    Tirado de São Lucas – aliás, no ano C predominarão os textos de São Lucas na liturgia de cada domingo – descreve a segunda vinda de Jesus, e mostra Ele mesmo falando dos sinais que a precederão: sinais no sol, nas estrelas; angústias nas nações, barulho no mar e nas ondas; homens desmaiados e as forças do céu abaladas... Então eles verão o Filho do Homem vindo numa nuvem com grande poder e glória!
    Contudo, Jesus, para não apavorar ninguém, já que este dia é imprevisível, apresenta também o modo de aguardarmos sua vinda futura e gloriosa: ficai atentos e orai, a fim de terdes força e para ficardes de pé diante do Filho do Homem.

    4.   Reflexão / Mensagem
    Caros irmãos e fiéis, o mesmo Jesus que veio ao mundo na plenitude dos tempos fará nova entrada neste mundo no fim dos tempos, como Rei e Soberano de todos os povos – a partir daí terão início um novo tempo, uma nova era, um mundo novo.
    Quando falamos da segunda vinda de Jesus, algumas perguntas são inevitáveis: quando virá, onde se dará, como será, e para que voltar uma segunda vez?
    Ouçamos as respostas de Jesus: Quanto àquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas somente o Pai (Mc 13,32). O ‘como’ e o ‘para que’ Ele apenas diz que virá com poder e glória, para reunir os que Deus escolheu (Mc 13,27).
    Quem serão os escolhidos, os eleitos de Deus? Somos nós, que nos tornamos seus filhos prediletos, quando Ele decidiu criar-nos por amor e, muito mais, por ocasião do nosso batismo, quando recebemos a graça santificante, que nos fez filhos no Filho. Não fomos criados para a morte – esta não terá a última palavra sobre a vida! Deus criou-nos para a alegria, a felicidade e, sobretudo, para participarmos do seu convívio na Pátria Celeste.
    Por isso, vigiemos à espera do Senhor em meio às incertezas da vida presente. Modelos de espera para nós são a virgem sábia do evangelho (Mt 25,1-13) e a esposa do Ct (5,2): a 1ª dorme, mas sua lâmpada continua acesa; a 2ª, também dorme, mas o coração vigia. Que bela imagem: duas esposas vigilantes aguardando o Esposo fiel no coração da noite!
    Vale ainda notar que a Sagrada Escritura fala não só da vinda do Senhor no fim dos tempos, mas fala também da Sua vinda diária a cada pessoa: Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a  porta, entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo (Ap 3,20). Sim, o Senhor quer cear conosco.
    Aliás, Ele já ceia! Em cada Santa Missa Ele vem aos nossos corações, para ser Ele mesmo o alimento que comunica vida: Se não comerdes a carne do Filho Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós (Jo 6,53). Você que está aqui hoje, faça de cada Eucaristia uma ocasião de abrir a porta do seu coração para Jesus entrar, fazer morada, comunicar sua vida: Eu vim para que tenham vida em abundância (Jo 10,10b).
    Estamos próximos de mais uma vinda de Cristo no Seu Natal. É certa a vinda desta Criança, que adulta revolucionou a história, dividiu o tempo, trouxe-nos salvação e paz!
    Nesses dias é praxe dar, receber ou mesmo esperar um presente; justo igualmente adquirir algo para o lar, satisfazer uma real necessidade. Contudo, saibamos acolher o melhor Presente, o Menino Jesus! Presente dado com tanto carinho, Presente de um Pai compadecido que oferece Seu Filho como Luz para o mundo que vivia na escuridão.
    As árvores de Natal já se espalham e enfeitam os lares e as cidades – infelizmente, a maioria tem muita arte, poucos símbolos cristãos. A árvore da Lagoa, ontem à noite inaugurada, ficaria mais bela se aparecessem de vez em quando Maria e José contemplando o Menino-Luz recém nascido no coração da noite mais feliz da história.
    Elas querem lembrar que Cristo é a verdadeira Árvore: árvore viçosa, nascida da raiz de Deus, para trazer ao mundo frutos de alegria, esperança e paz. Vendo as árvores e as luzes pelos lugares, lembremo-nos da verdadeira Luz: Eu sou a luz do mundo... (Jo 8,4).

    Conclusão
    Concluamos acolhendo uma recomendação de São Bernardo para estes dias: Convém que o enfermo, se não pode ir tão longe ao encontro do médico, ao menos procure erguer a cabeça e levantar-se quando ele chegar. Não te é necessário, ó homem, atravessar mares, penetrar nas nuvens ou transpor montanhas. Não é longo o caminho que te é mostrado: corre ao encontro do teu Deus dentro de ti mesmo! (Sermo 1 in Adventu Domini).
    Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!                                             

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