HOMILIA
PARA O III DOMINGO DO TEMPO COMUM – B
(Jn 3,1-5; 1Cor 7,29-31; Jo 1,14-20)
Jesus viu Simão e André, viu também Tiago e João;
eles deixaram as
redes e seu pai, e seguiram a Jesus. Tudo tem seu tempo!
Introdução
§ Caros irmãos e fiéis. Bom estarmos juntos para mais
uma Eucaristia: nossa gratidão semanal ao Senhor por tudo que somos e temos.
Sim, tudo é dom de Deus! Acordar todos os dias, eis o milagre diário tão diante
dos nossos olhos! Acreditemos: Deus a cada manhã nos segura pela mão e nos
levanta, e nos conduz nas idas e vindas de cada dia. Por isso ser sempre justo e necessário, ser nosso dever e
salvação dar graças ao Senhor nosso Deus em todo tempo e lugar (Prefácios),
pois NELE vivemos, nos movemos e existimos (At 17,28).
1.
O Tempo Comum / Ano B / Evangelho de São
Marcos
§ Estamos vivendo as primeiras semanas do Tempo Comum –
período da Liturgia distribuído em 34 semanas e dividido em duas etapas: a 1ª,
que começa após a Festa do Batismo de Jesus e vai até a 4ª feira de Cinzas; e a
2ª que é reiniciada após a celebração da Quaresma e do Tempo Pascal até a solenidade de NSJC Rei do Universo.
§ A liturgia nos domingos do Ano B utiliza o Evangelho de
São Marcos para apresentar-nos a mensagem
de Jesus. São Marcos, após as narrativas da pregação de João Batista, do
Batismo e das Tentações de Jesus, apresenta dos capítulos 1,14 – 7,23 um período
de ministério na Galiléia: o texto que acabamos de ouvir foi tirado justamente desta
secção.
2.
A Liturgia da Palavra
§ A LP deste III Domingo leva-nos a refletir sobre um especial mistério, o do tempo, e um
precioso gesto, o olhar – o olhar de Jesus! – olhar tão envolvente que
despertou quatro homens a deixarem tudo para segui-lo com prontidão! Sim,
ouvimos Jonas falar da possível destruição de uma cidade em 40 dias; São Paulo falar de um tempo que se fez breve; e Jesus dizer
que o tempo já se completou.
2.1.
A Primeira Leitura
§ Apresentou o Profeta Jonas, mensageiro de Deus,
inicialmente portador da notícia de que a cidade de Nínive seria destruída em
40 dias! Contudo, aconteceu uma extraordinária mudança. O povo, em vez de ceder
ao desespero, voltou-se ao seu Deus por meio da penitência: oração, jejum,
obras de conversão. Ouvimos o
resultado: Vendo Deus tais práticas, compadeceu-se
e suspendeu o mal que tinha ameaçado fazer-lhes, e não o fez.
§ Como Deus é sensível à oração! Esta o convence, fazendo-o
mesmo a mudar de plano! Nínive, que vivia dias de aflição, conheceu, quando se
ajoelhou, um tempo de graça e vida nova. Se há um instante onde Deus iguala-se
ao homem – se é que assim podemos falar – é quando o vê rezando: Ele ajoelha-se
junto! Sim, tudo tem seu tempo, tudo
é graça no plano de Deus! Ele pode permitir mesmo desencontros para ocasionar
seu perdão e sua graça!
2.2.
O Evangelho
§ Entretanto este tempo novo não
poderia ficar restrito a uma cidade e a um povo, apenas! Em Jesus o tempo
se completou e o Reino de Deus, não uma cidade, está próximo de nós! Em Jesus o tempo se fez novo e a graça nos
veio em abundância – Ele, luz do mundo
(Jo 8,12), luz das nações (Lc 2,30-32),
Jesus, dom e bênção de Deus para tudo e todos!
§ Sua luz brilhou hoje para
Simão, André, Tiago e João, luz que brilhou através do seu precioso olhar – Ele
viu! E como gostava de olhar: Ele viu Natanael antes de Filipe (Jo 1,47);
viu Mateus sentado na coletoria de impostos (Mt 9,9); levantou os olhos e viu
Zaqueu numa árvore (Lc 19,1); viu um homem cego (Jo 9,1); viu ricos e uma viúva
pobre dando suas ofertas no Templo (Lc 21,1-2); viu as multidões em alta
montanha (Mt 5,1); viu uma figueira estéril (Mt 21,19); viu o espírito do Pai
descendo como pomba e pousando sobre Ele (Mt 3,16). Ele também convidava a olhar: os pássaros do céu e
os lírios do campo (Lc 12,22 s), e convidou-nos a reconhecermos nele o Pai: Filipe, quem me vê, vê o Pai (Jo 14,9).
3. Reflexão
/ Mensagem
§ Caros irmãos e fiéis! A
liturgia de hoje sugere olharmos para a nossa vocação e a realidade do tempo
que nos cerca. Fiquemos, como mensagem, com a seguinte reflexão!
§
Quando precisamos conhecer e amar, tudo começa
com o olhar e a admiração. Diz a Filosofia Antiga: Nada há na inteligência
que não tenha passado pelos sentidos. Podemos dizer que nada há no
coração que não tenha passado pelo olhar: um olhar diz muito!
§
Hoje, adultos e jovens adolescentes, admiram
menos a natureza: o céu, o mar, o pôr do sol, e quando se relacionam com tais
realidades é mais para explorá-las do que admirá-las! Atualmente, inclusive as
crianças, andam ou estão sempre de cabeça baixa: em casa, na rua, nos
shoppings, aeroportos, todos estão com notebook, vídeo games, ou enviando
mensagem via celular, quando não passivos diante de uma TV – que pecado contra
o olhar!
§
A nobreza do conhecer passa pela sensibilidade
do olhar e pela delicadeza da admiração. Esta quer descobrir a essência do que está sendo contemplado, por isso
impulsiona-nos a descobrir a verdade e o mistério existentes no outro. E quando algo
ou alguém é verdadeiramente admirado, esse alguém ou esse algo suscita procura
e pede comunhão: impressionam não mais o olhar, mas o coração. Foi o que aconteceu
com os quatro. Outras pessoas estavam na pescaria, mas Jesus os viu, apenas! Ele viu! Eles se sentiram tão admirados por
Jesus que deixaram tudo o que possuíam: barcos, redes, amigos, pais, e abraçaram
uma nova maneira de ser, pensar, viver e existir – Cristão vem de Cristo.
§ Também fomos um dia vistos por Deus e escolhidos para
uma vocação. É fácil levar adiante nossa vocação quando as condições são
favoráveis. Mas, nunca nos esqueçamos
que qualquer ideal nobre pede renúncias, sem as quais a perseverança
fiel ficará comprometida.
§ No nosso tempo existem muitas pessoas divididas, emocionalmente
fragmentadas, e que nunca entraram em comunhão com sua opção de vida: seu
matrimônio, sua vocação religiosa, sua profissão – precisam fazer as pazes com
sua história, necessitam se reconciliar com seus erros e frustrações, pois tudo
isso dificulta a perseverança e ocasiona abandonos!
§ Mesmo depois de anos um religioso, uma pessoa casada,
um profissional qualquer, pode até permanecer na opção, mas sem nunca ter
deixado seu antigo lar, sem nunca ter se desvencilhado da influência dos pais,
de alguém ou de algo do passado. É bom viver nossa vocação sob o olhar de Deus
e de seu Filho Jesus Cristo. Confiemos no precioso olhar que Eles têm por nós e
façamos sempre o bem que a nossa vocação pede, pois o nosso tempo tem
necessidade de pessoas tocadas por Deus, que irradiem alegria e paz, e estejam
em perfeita comunhão com o ideal de vida abraçado!
§ Vale ainda notar que a
Sagrada Escritura abre-se e se fecha com duas observações temporais: 1ª) No
princípio Deus criou o céu e a terra (Gn 1,1); 2ª) Sim, venho muito em
breve (Ap 22,20). Esta verdade aponta para a real dimensão do tempo e para
a nossa outra vocação: a celestial! O
tempo, a história, o nosso caminhar, a implacável sucessão dos segundos, horas,
dias, meses, anos, a vida – esta sucessão de começo e fim – teve início em Deus
e será consumada com a vinda de seu Filho Jesus Cristo, justamente no fim dos
tempos. Daí o alerta de São Paulo na 2ª leitura: o tempo se fez breve! O
tempo é breve porque tudo o que aqui vivemos é sempre pequeno/limitado diante
da sede de Infinito que há em cada coração: a água que sacia esta sede existe
só na eternidade, Deus mesmo!
§ O tempo para o cristão deve
ser sobrenatural. Caminhamos no tempo preparando a eternidade, vivemos na terra
preparando o nosso céu. É no tempo
que caminhamos para o encontro definitivo com o Senhor, a fim de realizarmos
nossa vocação celestial: a Carta aos Hebreus diz que nossa vocação é celestial (Hb 3,1). Santo Anselmo complementa dizendo que
ainda não fizemos a coisa mais importante
para a qual fomos criados: contemplar a Trindade Santa na eternidade. Que excepcional intuição da nossa vida
futura no paraíso!
§ Estamos ainda nas
primeiras semanas do novo ano. Um novo ano é sempre um novo tempo. E, como diz
a canção, no novo tempo, apesar dos perigos e da noite que assusta,
estamos na luta pra sobreviver (Ivan Lins). Nesta luta para sobreviver às
ameaças de todos os tipos, não nos esqueçamos de cuidar da vocação terrena, mas
também e, sobretudo, da nossa vocação futura – nossa chegada aos céus!
Conclusão
§ Concluamos com o livro A Imitação de Cristo: Segue-me,
eu sou o caminho, a verdade e a vida. Sem
caminho não se anda, sem verdade não se conhece, sem vida não se vive. Eu
sou o caminho seguro, a verdade infalível, a vida sem fim (livro III, c.56).
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